Um sopro em meio a um vendaval...
Um fosso e o abissal...
O tosco diante do puro cristal...
Eis a solícita mordaça que apinha meu quintal!
Eis a estúpida desgraça que provoca estupor!
Nas entranhas do mais profundo,
Na harmonia do paradoxal
Meti-me sem compreender...
Após, houve um estampido colossal...
E acordei-me do sono, estupefato.
Entrei, atônito, no quarto.
Injúrias insanas contra mim...
Estultícias cometidas sem fim.
A pena à mão trêmula,
As letras espalhadas ao papel...
As palavras dependuradas semelhantes ao cordel...
O desassombro tomou conta de mim...
O pequeno que outrora se afogava ao oceano
Inverte a conjuntura abstrusa...
Tal fósmea profunda volatilizou!
O abismo vem a mim nestas horas
Esperando que eu me precipite
Que, de olhos fechados, eu me incline ao seu palpite...
Mas me pergunto, enfim, se poemizar não é andar de mãos dadas ao abismo...
E ponho-me a voar...
Voando ganho asas
E de olhos cerrados enxergo, já, frases inteiras...
O caos ganha forma...
A maiêutica de um poema tem uma norma inolvidável,
Abstendo-se de normas poemiza-se mais...
O exato irrompe, majestoso, se entrego-me ao poema...
Sem cena, sem medo...
E o movimento toma a pena.
A cada segundo que passa...
A cada pétala que cai...
Organiza-se o indizível,
O parto se aproxima,
Está próximo, o filho das entranhas...
Mais filho, pois da alma...
Mais forte, pois torna-se só.
Nasce, então, o filho da insânia!
E eu me regozijo chamando-o pelo nome:
Poema...
Poema...
Poema...
E isto ecoa pelos ares,
Visita os vales mais profundos...
Abarca todos os extremos.
Vai ao infinito
E eterniza um mundo.