quarta-feira, novembro 26, 2008

Portões da Alma




A luz que emana vem das profundezas insondáveis...
Portões de ferro rangem ao serem arrastados...
Cordas ensopadas de um líquido viscoso dão suporte ao abrir dos portões...
Sai, da escuridão sem fim, um imenso recanto...
Um campo imenso que diz de mim a força...
Que exala o cheiro suave da verdade...

As flores estão vivas...
A dor é resquício que deixa traços...
O chão está molhado. A chuva ensopou-o...
Um gélido toque da natureza lembra-me do fim...
Os passos largos da pressa nada fazem para demonstrar o erro...
A grama pisada é quem o mostra...
A leveza de um passo pode mais em seus efeitos...

Os defeitos são torpes...
Meras iniqüidades...
Pequenas falhas insólitas que nunca poderão se apoderar de mim...
A brisa fria sobre as pairagens lembram-me do movimento...
Triste insânia do sofrimento...
Porém, tranqüila descoberta do si-mesmo...

O Sol desponta em seus raios lúgubres do inverno...
Deixo a alma estendida sobre os campos a fim de captar o olhar...
O olhar infindo da estrela maior...
Que seca as lágrimas...
O toque é transversal, abissal...
Perpassa a alma insípida...

Corro por entre meus campos...
É como passear por si mesmo...
Ver sair de si o bem pior...
O mal melhor...

Olho, ao longe, os pesados portões de ferro...
Corro em direção aos mesmos...
Dá medo... acelera o coração...
Quanto mais perto, mais afeto...
Mais certo, mais mim-mesmo...

Adentro.
Está escuro...

terça-feira, novembro 25, 2008

Bela Baiana!


Descobri agora (como pode?) que a data de hoje, 25 de novembro, é dia da Baiana do Acarajé! Eita! Muito bom. Essas mulheres fortes e que fazem de pessoas, como eu, muito felizes ao deliciar-se com um belíssimo acarajé merecem uma homenagem.

Assim nos fala Jorge Comancheiro:
"A origem das baianas remonta ao período da Colônia, quando as negras de ganho percorriam as ruas da cidade com tabuleiros equilibrados sobre a cabeça vendendo comida. No tabuleiro, estavam as iguarias dos orixás, acarajé, vatapá, abará, que as filhas de santo comercializavam como obrigação do Candomblé. Só as iniciadas podiam vender o acarajé. Para isso vestiam bata e saia rendada brancas, colocavam o torso, o pano da costa, as pulseiras, balangandãs e colares na cor do seu orixá."

Deixo um poeminha homenageando as Baianas!!!

Bela Baiana

A bela baiana que tece caminhos de sabor...
De minha boca emana a saliva desejosa da pimenta negra-cor...
É o acarajé, baianidade e negritude...
É minha branquitude que se mistura em gesto e cor...
É minha vida que demonstra que com a baiana,
A vida tem mais sabor.

Do Começo ao Começo



[...
Há...
Letras...
Palavras...
E aquele jeito...
Aquele jeito de chegar...
Aquela forma de ser que cresce...
Vai ganhando espaço na tela, na poesia...
Mas vai decrescendo para caber...
Bem aqui, dentro do peito...
De uma forma calma...
Mas lembra mais...
Lembra cheiro...
Beijo e suor...
Pele...
Só?
Há...
Mais...
Mas 'tá longe...
Distante de mim...
Mato Grosso do Sul...
Cabelos encaracolados...
Não a minha inspiração que dista...
Mas aquela que inspira e me ajuda a poetizar...
Que está longe, mas um tanto perto...
Que se aproxima pelas palavras...
E me aproxima pelos versos...
Por aqueles verbos soltos...
São os cabelos soltos...
Adjetivos outros...
É a base neste...
Substrato...
O nome...
Eis aí...
...]

domingo, novembro 23, 2008

Breve Descrição de uma Mente em Surto Diante da Aberração que a Realidade Impõe


A respiração é ofegante. Os olhos estão avermelhados. Gotículas de suor se amontoam sobre sua testa. Outras, escorrem e se encaminham por sobre o seu nariz, despencando e caindo ao chão logo em seguida. O peito se expande e comprime num ritmo acelerado, a respiração é ofegante. Cada palavra do oponente se choca contra uma barreira invisível... a audição somente escuta o que vem de dentro. Os olhos captam uma gesticulação vociferante do outro. Cada abrir de boca é apenas uma imagem... mais uma, somente. Os seus músculos contraem-se, veias aparecem estufando-se, o tronco encurvado e as artérias que sobressaem no pescoço dão seu ar da graça. O vento parou. Nada mais existe, a não ser ele e seu oponente. As narinas expandidas permitem uma maior oxigenação cardiovascular, o que permite a maior concentração de energia que será utilizada a qualquer momento. Ele fixa seu alvo. É grande seu oponente... A respiração fica cada vez mais ofegante... Os pés se direcionam e começam por levantar o calcanhar, centímetro por centímetro os pés caminham... Os músculos das coxas se contraem, a respiração é intermitente... Nas mãos... garrafas... de polietileno... garrafas pet cheias de um líquido avermelhado... Ele caminha e adentra no veículo, um ônibus comercial. Em sua mente, as imagens que lhe vêem são de seus filhos chorando de fome... Sem perceber, o assoalho do ônibus já está ensopando da gasolina que cai de duas garrafas de 2L... A multidão ao redor do ônibus grita, com paus e pedras nas mãos, "Vai, Zé! Rápido!!!" Ele olha para fora por entre as janelas de vidro, olha para o assoalho ensopado e sai correndo, saindo do ônibus... Retira, cuidadosamente um esqueiro vermelho, acende-o e joga para dentro do veículo... O fogo de alastra sinfonicamente, gradativamente e toma conta de todo o interior o veículo. A multidão se afasta correndo e ele permanece parado, contemplando a arte acontecendo naquele instante... Agora, o fogo se alastra por sobre a lataria do ônibus. Ele se afasta sem dar as costas à obra, se afasta com um sorriso no canto da boca, o sorriso de quem vence a batalha... De súbito, o veículo explode causando um imenso barulho e subindo alguns metros do chão. A multidão explode também, mas gritando, com euforia uma infinitude de sons. A turba está satisfeita.