sábado, maio 09, 2009

Espírito Livre


Um espírito livre...
Que bate asas até o infinito...
Que acalma as águas...
Sopra o granito...
Dá cores às rochas, lavas incandecentes que cristalizaram...

O vulcão se aproxima do explodir.
Um cheiro forte de enxofre cobre a mata.
A cidade se ressente...
Dizem ser a ira dos deuses...
Um vulcão que fala.

Nada compreendi...
O espírito livre voava...
Olhava do alto da plataforma invisível...
Olhava abaixo de si.

Os moradores em polvorosa,
Cantavam hinos ao nada...
Hinos, indo... vindo...
Corriam uns, transavam outros...
Rezavam ainda outros.

Dei pouca atenção...
O espírito observava somente uma procissão...
De lindas mulheres vestidas de pano de chão...
Rasgavam-se vestes, arrastavam-se loucamente...
Doía, meu coração...

Já não entendia o que estava eu a fazer ali...
Um livre espírito me tomou...
Sou eu, quem sou?
Voava sem parar...
Escutava sem escutar...

A vida mostrou percalços a superar...
Arrancou-me um verso sem poetizar...
Amei, sem amar...
Sofri mas acordei...
Adormeci no ficar.

Nada de palavras...
Lógica alguma utilizei...
Alma imersa num corpo...
Materializar.
Executar o impossível... voar.

Ganhar o já perdido...
Abandonar a si e deixar-se cair...
No abismo...
E voar.
Deixar o vento arrastar...

Dar liberdade ao espírito incandescente...
Ao vulcão da língua ardente...
Da boca que fala o que sente...
Do viver que exala afeição...
Ainda que o medo o arraste pelo chão...

E voa, sem medo de olhar...
A real realidade...
O brilho, a esperança...
O luar...
Luz que em meio à noite esclarece
As verdades dolorosas de uma vida.

sexta-feira, maio 08, 2009

Eu, sombrio... a tarde


Uma doce e sombria tarde...
Um sentimento de si...
Um apelo desesperado...
O grito, logo ao lado...

As folhas secas se espalham...
O Sol, distante, toca-me levemente...
É fim de tarde...
É dor, é sentimento...
É falha.

A Lua já desponta...
Um leve frio me aquece a alma...
Tudo que preciso...
Tudo que me acalma...

A cama, a lama...
Um sujeito.
O que sou, não tem mais jeito.
Eu falo, repito, não me calo...
Sinto a alma arder dentro do peito.

Uma fala de uma dama...
Um silêncio e um olhar...
Despertou o mais íntimo de mim...
Uma alma turva...
Obscura e doce...
Às vezes, torpe...

Uma alma enegrecida...
Uma existência que afirma a vida...
A vida com a ciência da morte...
No peito, o coração bate mais forte...
Enrijece, faz-me mais...

Um manto me cobre a cabeça...
Um frio me envolve o corpo...
Uma voz, chega-me aos ouvidos...
Minha fala já não serve mais...
Minha face fala por mim.

Fala do que não tem fim...
Do eterno ser que nos tornamos...
Do entorno...
Do quadro ingrato que retratamos...
Do sórdido, do caos...
Do cais...

Do mar que quebra em ondas...
Que tenta traduzir a alma do mundo...
Que abriga e destrói.
Que mostra como minha alma se constrói..
Sinto, agora, que estou mais perto de mim.

quinta-feira, maio 07, 2009

Criança que Sou


Quero brincar...
É tão bom sentir-me criança...
Mas isso senti por que hoje voltei alguns anos...
Voltei em alguns planos...

Tirei um peso enorme do peito...
Uma mágoa que rasgava-me...
Deixava-me sem jeito...
Matava-me...

Encontrou um peito aberto...
Amassou um coração...
Feriu e fugiu...

Mas que bom!
Para ser criança é preciso ter coragem!
E eu a tenho!
É preciso amar a simplicidade...
De ser transparente... inspiração.

Simples, como dantes...
Criança que corre e se atrapalha...
Mas acerta no tentar...
Tentar aprender...
Elucidar.

Sou criança toda vez que aprendo...
Toda vez que tento...
Sem perceber se estou sendo ridículo...
Se devo ou não pedir perdão...
É o que estou tendo.

Sou criança agora...
De caneta na mão...
De pôr boca ao coração...
Voz e regozijo...
De dizer que sim, que não...

De dizer, simplesmente...
Com a paz, como parente...
Que a dor de outrora...
É vitória guardada...
É regozijo no futuro.
São lábios sorridentes.

Superei-me, falei com quem me magoou...
Estou feliz comigo...
Superei uma dor...
Achei-me em meio a um vendaval...
Encontrei uma parte perdida de mim...
A força de uma criança.

Coração a mil...
Não consegui sorrir,
Mas avancei.
Sentei-me ao lado dela...
Senti que ela estranho achou...
Comecei a falar...

Mágoa só existe quando se ama...
Só se é machucado quando se valoriza o outro...
Mas reconheci...
Fui um tolo ao tentar entender...
O que havia de mim em você.

Agora, estou livre...
Saí de um nó...
De um nós...
Agarrei-me a mim...
À criança que sou...
Que fui...
Que serei.

terça-feira, maio 05, 2009

Uma Verdade


Na vida nossa,
Somente há um verdadeiro amor...
O primeiro amor.

segunda-feira, maio 04, 2009

Ondas...


Chuá...
Bate forte...
É onda p'ra lá...
É onda p'ra cá...
Vem e vai...
Cai...
É...
Aí...
Volta...
Embala...
Logo espalha...
É como um jogo...
Vai e volta...
Descresce...
Diminui...
Assim...
Faz...
Sim...
Tenta...
Insiste...
Persiste...
Em recorrer...
Aos ventos...
Arrastam...
Insentos...
Desce...
Sobe...
Vai...
E...
Vem...
Vento...
Força grande...
Onda alta se forma...
Vai lá em cima, bem alto...
Percorre kilômetros de costa...
A praia chega geme de medo...
No alto da onda que quebra...
O povo logo vê os surfistas...
Que descem, disparados...
Segue indo e vindo...
Pisando fundo...
Bem no alto...
Das ondas...
Chegam...
Cá...

domingo, maio 03, 2009

Frio e Amor


Há uma moça...
Aquela de meu coração...
Dona, anjo, arranjo de flores...
Sorri...
Olha de lado e depois para o chão...
Sente que pode, mas prefere esperar...
Inclina-se sobre uma mureta de concreto...
Encosta-se e encara...
Perco o jeito...
Fico sem graça...
Rio por dentro...
Como pode isso comigo?
Timidez não é mais o meu forte...
Superei...
Será?
Ou ela me faz encarnar a infância perdida?
Nossa!
Aquele amor perdido...
Aquele sentir perdido...
Aquele frio compartilhado...
Aquele aquecer de mãos dadas...
De olho no olho...
De verdades sentidas, não ditas...
De coração acelerado...
De pequenas mãos, sustentando pequenas mãos...
Amor de infância...
De olhar que tudo dizia...
De tudo, fugia, ao olhar aquele olhar...
Ah, esse frio que me fazer recordar...
É esse frio que me faz sonhar.
Paixão.