segunda-feira, novembro 01, 2010

D'um Mar...

 
Amar é estar preso à liberdade de prender-se a alguém que nos deixa livres...
Porque, se preso e parados estamos, cedo morreremos...
O vôo só pode ser efetuado em espaço aberto...
E amar é semelhante a voar...
Difere-se apenas num ponto só, pois amar é a dois...
Como um voar de mãos dadas...

Em pleno abismo cair...
Sentindo o livre cair...
O livre ser, de um ser em si para o outro...
Amar é estar livre em prisão solta do coração de outro alguém...
Quando o coração próprio apropria-se do voar...

As asas são o vento...
Os olhos, a apreensão...
A vontade de ter...
De ser, enfim...

Amar...
É mar em sua imensidão...
É ar, é luz, é vôo na escuridão...
Donde a confiança se torna parca iluminação...
Que cresce quanto mais se avança...
Quanto mais se vai, mais força alcança...

É crer-se resignação...
Que faz o bem querer por pura vontade...
Puro desejo de bem querer...
De bem sentir...
De ser-se para alguém...
O amor.

quarta-feira, outubro 20, 2010

Cavaleiro de Guerra



Sob o Sol ardente...
A poeira incandescente...
Sopra o vento da luta e batalha...
São eloquentes tempos de guerra...
Abasteçam os olhares em sangue e carnificina!
Banhem-se das cores mortas e sangue vivo!

As trompas e trompetes se acordaram...
Definiram-se para reluzir o brilho prateado das espadas...
A respiração ofegante ante o caos de vento e poeira...
Os olhares da dama preferida que o acalma...
E o sorriso doce daquela que ele ama...

Correm os guerreiros em face da morte...
Agitam-se as arenas de vozes e trovões...
Há raios que cobrem os ares quando as espadas se cruzam...

Uma voz...
Apenas uma voz...
Naquele turbilhão de insanidade acalorada...
Fez-se ouvir pelo cavaleiro de guerra...
Aquela voz...
Doce...
Delicada...

A força se duplicou naquela fisiologia, já, de guerra...
A respiração e a postura que se vê são a vitória adiantada...
Quando em verdade, em riste, está a espada...

Agarra os sons e os olhares...
Daquele que luta por um amor...
Tem sangue, tem guerra, tem luta, tem suor cavalgando em um coração...
Arranca da alma o valor da indignação...
Pois amar é doar, é ser tudo para si e, de si, tudo para quem se ama...

Vê, pois, a sorte que se assujeita...
Volta e preenche o amante lutador...
De força, espada e agressão...
Provoca morte ao opositor...

Eles lutam pela vida...
Ele luta por ela...
Ela o vê e suspira, tensa, junto ao seu lenço...
Uma lágrima lhe sobrevém ao imaginá-lo caído ao chão...
Aperta-lhe forte no peito, a angústia com sua potente mão...

Mas ele tem nos olhos o golpe sobre seu adversário...
Os dentes rangem ante a força aplicada...
Na mente, seu objetivo maior...
Viver nos braços de sua amada...

Eis o cavaleiro de guerra...
Dominado pelo doce sorriso de uma guria...
Toda aquela força agressiva...
Amaciada pelo toque sincero e meigo de uma menina...
A mulher...
Aquela que de doce força domina...
Domina o guerreiro da vida, que luta contra a morte...
Todo santo dia.

domingo, setembro 05, 2010

Egoísta




Sou muito egoísta para dividir minhas derrotas com o Diabo...
Sou insano e introspectivo ao ponto de suicidar, meu ego...
E depois fazê-lo ressuscitar em dó da perda de mim...
Meu amor por mim é paixão severa e incapaz de soltar os laços...
Nem posso chamar de amor, é dor apaixonada de um fraco por um forte em ilusão...
Nem sou eu mesmo, é só uma parte exemplar...
O exemplo que nunca deveria ser seguido...
Meu egoísmo é ismo de toda hora...
É doença capaz de capar, castrar qualquer ação vociferante...
Qualquer queixa inebriante de voz feminina que clama em chama e pega fogo...
É aquela voz que é nada, mas que se insiste em ser algo...
Sou muito egoísta para conceber deuses em meus atos...
Sou eu mesmo, de ego e de vozes esquizofrênicas em plena neurose...
Insandescências sadias em meio à psicose social...
Um igual...
Um sadio?
A igualdade da psicose social...
Não, um doente.
Isto mesmo, um doente é o que sou!
Um doente que segue; como o cordeirinho segue o seu pastor...
Isto, sigo a doença social...
As ilusões adotadas socialmente...
As religiões, as drogas, as novelas, os futebóis...
Isto mesmo! Sou mais um do mesmo...
Um igual e diferente... mas igual...
Sou isto, sou aquilo e aquiloutro acolá...
Vario, desvaneço em fuligem...
A fumaça do cachimbo...
(“liberem já!”)
Ou me arrepio em sorrisos...
(quando a novela irá começar?)
Ah, esse eu que não sou!
É parte inerente ao onde não estou...
É parte, partida, corrida...
Me despeço e vou...
Não eu, mas Eu...
Vai embora, ó insânia!
Morre, desgraçado agressor!
Fingido de uma figa!
Sou mais que a dor...
Vou voar, bater asas desse lugar...
Subir para mais alto, de onde eu possa ver...
Você, lá embaixo...
Procurando por mim...
Enfim, vou ficar mais para cá...
Deixar você seguir...
Ao nada e se desfazer...
Voltar de onde saiu...
Tomarei estas rédeas!
O sucesso é o meu lugar!
Boa sorte, em tua sorte errante para o nada voltar.

sexta-feira, setembro 03, 2010

O Retorno




Ele caminhava cabisbaixo...
Pensamentos ecoavam em sua mente...
Um beco escuro...
Silêncio, quebrado apenas pelo vento...
Que trazia de longe um jazz...
Naipes de sopro e um piano desafinado...
Estava perdido num deserto de concreto...
Imerso na noite de estrelas como teto...
Caminhava enquanto nuvens caíam aos montes...
Esbarradas num céu semicerrado...
E um chão de concreto...
A voz em sua cabeça ressoava dissonâncias...
Sua pele escorregadia, de suor e bonança...
A cachaça, pinga do bar do beco...
As risadas solitárias de bebuns enclausurados...
Os quase-nada que nadavam em si e só...
Agora, uma rala chuva o tocava...
Um ventinho soprava embora aquele calor...
Viu, ao longe, um cachorro se abrigando da chuva...
Mosquitos em volta da lâmpada indo-se...
Um taxi branco passando lentamente...
Estendeu a mão...
Foi-se, então, embora.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Em Sangue


O inferno de cada dia...
O fogo ardente de dentes a ranger...
A fúria insana que nos toma...
A foice sagrada da maldição.

Seguiu em viagem a caminhar...
Caminhos ocos experimentou...
De vida vazia e vasos sem terra a plantar...
Seguiu em viagem a marejar...

O inverno de cada noite...
Sem cobertor para acariciar...
 Os lábios malditos quisera beijar...
De mordidas sem fim, de sangue a sugar...

São insanos estes desejos vampirescos...
São o som de sonos e meros lampejos...
Da alma que acalma a cama e o carma...
Os dentes afiados a mordiscar...

Este é o passeio inodoro...
Os passos mergulhados nas travessias oceânicas...
Desse infindo mar de nadas...
E águas saguinolentas...

A foice e o destino...
A morte e o desatino...
Sarou-se em saúde mais humana...
Ao descobrir-se e banhar-se num mar de lama...

Sarou-se em si...
Descobriu-se perverso...
Um sociopata!
Aquele que está aí, aqui e acolá...
Viveu em luz, as sombras malditas...

Atravessou o céu...
Mergulhou em mar de sangue...
Banhou-se em si...
E ao inferno voltou.

quinta-feira, julho 01, 2010

Nublado e Chuvendo


Estou triste hoje...
A chuva não quer parar...
O espaço entre mim e o nada quase que são imperceptíveis...
Hoje eu posso chorar...
A fraqueza inerte diante de todos...
Mas a coragem em atuar de peito aberto diante da vida...
Hoje eu vou correr diretamente aos meus braços...
Irei me jogar diante de mim mesmo e ver, de lá, aquele corpo largado...
As lágrimas que se confundem com a chuva é puro clichê.
Mas aquelas que me inundam por dentro, nem sei dizer...
É pura abstração arredia de quem insiste em se manter...
Sagacidade aparente, vento e ventre em consonância...
Solto a voar, a cair, a chorar, a nadar nesse mar de águas, de lamas, de lágrimas...
Salto nesse mar...
Hoje eu posso chorar...
Aliás, devo fazê-lo.
Em constante arrepio de visão espiritual...
Como quem gela diante do susto do desconhecido...
Sobe, em meio à tempestade de si aquela energia que comprime...
Arrasa e expande...
Há um contato em primeiro grau...
Com seres de outras galáxias de si...
Assustam, ensinam, alargam a alma insalubre...
Advertem do nada que são.
(Assustam outra vez)
Somem em tornado e contorno dissonante...
Sou homem em transtorno e sonoro instante...
Sumo e apareço em cascata verdejante...
De sóis e raízes...
Da cobra, o ventre...
Das nuvens, gotículas imersas no ar...
Estou triste, isto é um fato.
O choro? São lágrimas salgadas deste mar.
São íntimos instantes...
Instalados e transbordantes...
Experiências intransferíveis.

terça-feira, junho 15, 2010

A Sonhadora Matéria¹


Sim, somos matéria...
sonhadora...
poética...
inédita...
a todo momento...
destilando palavras ao vento...
ao mar...
ao movimento...
Desejando ser mais, não mais os mesmos...
Matéria desmedida... composta por palavras fugidias...
Instinto e agonia...
Somos o salto do infinito...
A manifestação do que não pode ser dito...
Somos a sonhadora revelação...
Divina realização de sonhos e de medos...
De águas cristalinas e serenas...
De mares revoltos e estranhos...
De caminhos, catarses, cantores e amantes...
Da arte, do ar, do vôo, do breve instante.
 
_______________
Resposta a um recado orkutiano homônimo a este título da amiga Jackie Bacelar.

domingo, maio 16, 2010

Livre


Caminhou pela escuridade adentro...
Atravessou os astros, estrelas fugidias...
Não sabia que o escuro era a ponte...
A fonte de horrores intangíveis...

Distante, pôs-se a caminhar sem saber...
Caminhos de nuvens persistiu em percorrer...
Segurou-se no nada para em asas viver...
Voou... voou sem querer...

A ponte era o limite de outrora...
Agora, a vida toda ignora...
Voa...
Encontrar-se-á a águas doces de maçãs...
A águas amargas de manhãs...

O lugar apinhou-se de gente...
Gente, antes estrela reluzente...
Viram um mar a voar solto pelo ar...
O céu azul de tanta água a passear...
O lugar de nadar tornou-se um flutuar...

Mergulhou intensamente...
Nadou um tanto desajeitado...
Viu peixes e mares ao céu...
Sorriu-se de si diante de inusitado lugar...
Olhou para baixo e viu longe formigas curiosas...

Era a fonte aquele instante etéreo...
Contemplou-se no espelho d'água...
Dinamizou o coração amarrado...
Soltou-lhe as correntes e deixou avoar...
"Avoa!", gritou bem alto.

Descobriu-se, qual Alice, num sonho arredio...
Andou anos mais tarde...
Por onde mais cedo viu-se infantil...
De brinquedos e crianças...
Das virtudes e das danças...

Olhou-se na luz do agora...
Não mais fugiria do presente-instante...
Pois é ali, no insosso e melancólico...
No colorido cheiro de força e ação...
Onde tudo passa a existir...
Onde anda em passos firmes...
Seu nobre coração.

__________
Imagem de minha autoria. Clicando nela você poderá visualizá-la maior.

terça-feira, maio 04, 2010

Reflito...

 E eu?
Bem, suponho que a vida seja uma só...
Que o limite seja o corpo...
O copo de bebida amarga...
A inércia do viver...

Suponho ainda mais...
Que minhas palavras são fugidias...
Suponho que minhas vestes se estragam antes de eu perceber...
Que meus cabelos estão bagunçados sempre...
Que a vida é violão em mãos errôneas...

Vou além...
Digo que tudo é nada...
Que a vida é canção armada...
É o nada que intenta aparecer...

Digo e repito:
Quer aparecer? Pendura em ti uma melancia... 
Já dissera meu pai...
Meu avô...
Meu direcionador e cuidador.

sábado, maio 01, 2010

A História da Chuva



O menino da chuva falou alto:
Quero ver que coragem vem marcar...
O coração sangrando que me atira do sexto andar...

A menina da chuva logo riu-se...
E acrescentou com atos e gestos...
Que ela estava na chuva para se molhar...

Ambos se olharam, acrescentaram-se num segundo arredio...
Ambos não podiam se olhar...
Mas teimosos, insistiram em se tocar...

A chuva veio e o menino ousou desafiar...
És a menina corajosa que a chuva vai enfrentar?
A menina se divertia, rindo-se daquele olhar...

A menina ousava a repetir:
Quem está na chuva é p'ra se molhar!
Agora, quem ria era o menino...

Hei, menino da chuva, vamos festejar?
E o menino, dividido que estava, ousou ousar...
Andou em passos firmes...
Conduziu a menina a rodopiar...

Ousou fazer a mesma viajar...
Pois na vida, a alegria é o fantasiar...
Propôs: vamos superar?

E a menina corajosa da chuva...
Repensou em seu querer...
Franziu a testa, pensou e um símbolo em círculo mostrou...

Era feliz, mas triste também...
Era corajosa, a menina...
Mas como uma menina, resolveu se afugentar...
 Não poderia ser o que não era ainda...
Mas como diz o sábio, só o tempo dirá.

quinta-feira, abril 15, 2010

A Criança de Sempre



 Para onde foi aquela criança tímida?
Aquele ser frágil...
Quase incorruptível...
Um santo, insano...
Aqueles passos trôpegos...
As mãos estendidas até ao vazio...
A ajuda e a doação grotesca...
O pão ao cego...
Ao doente...
Um poço de santidade...
Pura calamidade escondida...
Agressividade arredia...
Contida por olhares de compaixão...
Para onde foi aquela criança?
Medrosa em dançar...
Do corpo nunca pensar...
É a morte travestida de resignação...
De um calado ficar para não morrer sem admiração...
Como se a sorte fosse o olhar do outro...
Ah, esse grande Outro!
Se a morte fosse infligida sem ódios...
Fosse assegurada sem tremores...
Com a ajuda sólida da razão em asas...
Onde está aquela criança?
Foi-se?
Saiu-se sem ser percebida?
Duvido!
Tudo que ela queria era ser vista e apreciada!
Então, onde estará?
Não longe...
Está muito perto...
Não fugiu...
Está aqui...
Escondida...
Contida...
Mas respira sofregamente...
Como em falta de ar...
Quer respirar...
Quer sentir o pulmão trabalhar...
Quer, do corpo, usufruir...
Mas se esconde...
Quem entende?
Só ela mesma em sua plenitude pueril...
Contágio ardiloso...
De um corpo vil.

sexta-feira, abril 09, 2010

Da Função Inusitada...



Ela, ela, ela...
Quando nada tem para oferecer...
Em seu interior oco e vazio de existência...

Gotejam ralas chuvas...
Frio tempo...
Intempestivo tempo...

Ela, aquela que preocupada está...
Corre, atira-se à cozinha ensopada, já...
Abre o armário, olha ao lado...
Pega a panela, arrota melancia...
E suspira em seu vazio...

A chuva não quer cessar...
"Sai da água, menino!"
Grita sem parar...
Quase que atira a panela ao longe...
"De tanta raiva que dá..."
Ajeita a panela debaixo da goteira...
"Esses gatos filhos da puta..."
A chuva está forte...
Vento e tempestade que não beiram em parar...

Tilintam na panela, as gotinhas a cantar...
Em seu tempo sem escrúpulos...
Adentram à casa sem pedir...
Arrastam-se como ao mar...

Mas é a função da panela
Elas, aparar.

quinta-feira, abril 08, 2010

Aprendi



E quando o sol sair vou ver o mar...
Lembrar do que não vi, amar...
Saber de tudo em si...
Girar com os olhos fechados...
Cair...
Mergulhar em fontes e vidas...
Sair sem saber para onde ir...
Perdido hei de ficar...
Sedento de sangue vou ser...
Abrigo caiado de belo prazer...
Com doses pequenas de quente amanhecer...
De largos passos e pegadas na areia...
De pores e nasceres...
De sóis, de vinhos e de iras...
Salvo, enfim, eu vou ficar...
Correr solto por aí...
Desafinar...
Expandir as concepções e mentalidades...
Derramar o óleo cru da maldade...
Encharcar o pano seco da leveza...
E como criança hei de encarar a velha e inodora barca...
Navegar o infindo mar...
Chover como gotas e espalhar...
Essa sorte que me veio alcançar...
De ter um sol, uma luz, um caminho, enfim...
Saber-se só e em si se encontrar...
Fazer-se nó e a solidão questionar...
Aceitar que estando só, não há solidão que resista...
Pois a vida são gotículas que caem...
Derramam-se e graciosamente encaram nos olhos...
E dizem assim:
"Em só e em nó transformas a ti...
Sem expressão não há forma definida...
Flexibilizas a ti...
E nada pode ser, pois ser tudo é não ser um...
E ser um é ser indivisível...
Mas a sorte a ti chegou!
Arranjastes um outro ser...
E tivestes que te ajuntar...
Dos pedaços, do pó...
Alargastes o sentido da vida...
Desfizestes o nó...
Pois a poesia das palavras de outrora...
Em teu peito arde que dá dó...
Mas é bom que assim sejas...
Aprendendo a amar, serás um...
E outro ao mesmo tempo...
Serás mais...
Hoje, estás mais do que ontem...
Deixa chover por dentro...
Nós, em teu corpo vibramos...
Aquecemos, instilamos uma semente...
Regamos todos os dias...
O vinho branco da sabedoria...
Pois achastes o caminho...
Carregas o peso neste ensejo...
Serás, daqui para a frente, o fiel cumpridor de teu desejo..."
 E ouvindo isto me calei...
A voz da vida é a chuva mais querida...
O som mais doce de suavidade inaudita...
Calei-me.
Ouvi.
E em sono adentrei.

terça-feira, março 30, 2010

De Assalto...


Não sei como se deu, foi chegando sutilmente,
Atraiu-me intensamente, com o poder de algo seu...

Não sei como se foi, foi saindo lentamente,
Agarrou-me seriamente com um olhar de brilho incandescente...

Quem sabe fosse a lua, ou quiçá fosse ela...
Se era minha ou se era tua, qual mistério a revela?

Qual força de brilho intenso, a sorte que hoje penso
Acompanha a graça de descobrir logo em ti, a resposta do fundo de mim...

Eu que jamais subestimei um desejo, mesmo quando a vontade era reticente
E até o silêncio era quase eloqüente, não deixava de imprimir um cortejo...

Jamais neguei a mim mesmo o jorrar de anseio que de dentro me vinha...
Nunca me permiti saltar de mim para fora... Nunca fugí-me de mim de pára-quedas...

Mas lembro-me de quando fiz do futuro horizonte perto...
E esqueci por alguns instantes de regar o momento...
Cultivando memórias que não me diziam ao certo,
Se tudo que eu plantei era frutos de pensamentos...

Seria insônia... Insânia... Infâmia... O caos aqui de dentro?
Haverei de regar-me à vida, ao mal, à liberdade e a tudo que julgam certo procedimento?
Inventei, agora, um dizer, uma palavra, um sentimento...

Um lamento profundo oriundo de minh'alma
Que pulsa no mais hostil estardalhaço
E eu palhaço que sou da fúria e calma
A cada espetáculo com meu oráculo me refaço...

A cada fúria, dada a penúria de ser o que eu acho...
Encaixo, a mim em minha mentira...
Afasto o espetáculo... Palhaço em aço me revelo...
Desfaço o novelo, mostro unhas e dentes... Enceno-me...

Aceno-te com mãos acanhadas e trôpegas
Tropeço em pensamentos e caio na real
E penso comigo se a coragem em que projeto abrigo
É a válvula de escape que me escapa no final...

Atropelo.
Apelo para um aconchego do indizível...
Rastreio sensações insanas e desapegos...
Meu abrigo que projeto é a coragem do desabrigo...

Digo.
Desligo a tomada do medo do trivial...
Transformo em moléculas de virtudes os átomos de meus vícios...
E desfiguro a aparência dessa minha figura...

Incendeio a auto-imagem decaída...
Brinco com fogo, qual criança a se masturbar...
Que se descobre matando a moral insossa dessa gente...
Dessa morte eloqüente que insiste em se manifestar...

Apago o fogo desse meu mar vermelho
Atravesso o oceano que vai dar na obscuridade
E vou despindo a moral que insiste em não morrer
Mas que se apavora diante de toda sobriedade...

É assim...
Cheguei mais perto de mim quando mais longe olhei...
Atravessei o oceano... A obscuridade é a luz...
A moral, a morte...

E a verdade? Quem sabe esteja para os mortos...
Que apesar da alma desvanecida pelo vazio
Sonham com a esperança de um dia retornar
Para o mundo que dilacerou sua matéria viva...

Esqueceram-se, de um dia, considerarem-se vivos...
E, na morte, morreram-se todos...
Agora, intentam voltar para ter o inalcançável...
Sonham, mortos, com a vida que nunca tiveram...

Mas eu, o que poderei contra esse poderio?
Vou atacando essa alienação com olhos de lança,
Antes, me implodo, e então, mostro meu engodo...
Arrasto para mim os seres e coisas que me são imprescindíveis...

Ataco com a agressividade do servo em poderio do senhor...
Puxo de mim para fora o que nunca houvera antes...
Deixo adiante de mim a força como instrumento de batalha...
Seduzo a voz inebriante do calor e da raiva oprimidas

E por fim, chego ao instante de voltar-me para o exórdio...
Ocupando cada lacuna que um mero desejo me fez abrir...
Depois de saber que todo o fim deixa um resquício que principia...
E que me faz descortinar outros caminhos que jamais pensei existir.

___________
Poema escrito por mim e o amigo de codinome Heitor Idílio, aquele que tem a Alma de Poeta.

domingo, março 28, 2010

Um Café?


Há frio...
Ventos leves...
Chuva rala...
Aperto no peito...
Distância dolorida...
Vivência não vivida...
Saudade do porvir...
Contos leves...
Tua voz ao meu ouvido...
Ela me garante que espera...
Gostamos de pensar que estou a fazer uma viagem qualquer...
E nos falamos ao telefone...
Escutamos qualquer música careta...
Assistimos a um filme qualquer...
E enquanto a chuva cai...
Nos falamos à distância...
Esse ser que nos oprime e arranca lágrimas de mim...
Mas estamos tão próximos, é certo...
Que há pouco nos oferecemos carinho...
Cafuné, deitar no colo, dormir coladinho...
Oferecemos o comum de casa...
Quer um café?


terça-feira, março 16, 2010

Escrever...

Eu não escrevo...
Quem escreve é minha angústia...
Minha solidão chorosa...
Meu aperto no peito...
Nó na garganta...

As mãos são linhas tênues...
Composição inerte...
Imposta à tela...
Arrancada de dentro p'ra fora em força agressiva...
Luz de fim de túnel...

O som é nordestino...
Rabeca e zabumba...
É sertão seco, inagualável...
Respiração fugidia...
Tosco sentimento indecifrável...

Quem sofre sou eu...
Um coração frente ao calmo mar...
Quem se expressa é a angústia...
A força indizível do sofrer...
A distância...
O rasgo em mente observada de cant'olhos...

Quem escreve é a ira...
O insano inseparável que luta em se desvencilhar...
A força irrevogável...
A ânsia de poder estar...
A vírgula pronta para pausar...
O ponto, para finalizar...

Há liberdade...
Tempos idos que à frente está...
Sorte de desejo aconchegado no peito quente...
Esperançoso...
Que espera, enfim...

Quem escreve é a ordem...
Intenta se caotizar...
Caos inverso em verso introjetado...
Quem escreve é o nada...
O desespero mais esperado...

O que nada diz...
Que tem tudo a dizer...
Pois é nada e como tal, tudo mostrará...
Incendiará a boca insossa...
Com palavras de fogo e clarão reluzente...

O seco caos interno...
O fogo em água faltante...
O asno em relincho salgado...
Patas em coice a se preparar...
Bocas em chamas a se tocar...

Escreve isso aí...
Esse tudo e nada paradoxal...
Quem escreve é o já escrito...
Mera repetição de palavras ôcas e descritas pomposamente...
Eu nunca escrevi...
São as letras, repito, que se escrevem a si próprias.



sexta-feira, fevereiro 19, 2010

O Elefante


Ele é infante, ainda chora...
Sente falta, agoniza, implora...
Se debate e intenta fugir...
Mas há correntes...
Ligadas a um peso sem fim.

Tão pequeno, crer-se tão capaz...
Usa força, puxa e ao chão jaz...
Não! É só um descanso...
Tão forte ele é, insiste...
Persiste o pequeno elefante...

Depois de água e comidas...
Rações, para ser mais exato...
Ele olha ao chão...
Correntes aos pés...
Detido, um coração...

É jovem, agora...
Sábio tornou-se...
Correntes são fortes...
Prenderam uma alma...
Quem é capaz?

Adulto, olha ao público...
Diverte e se sente atração...
Olha a corrente aos pés e sente-se na razão...
Eu o olho e pergunto: "como pode, então?"
Antes, peso insondável...
Hoje, pino de construção!

O grande elefante perdeu-se em solidão...
Em coração vazio...
Em correntes inquebráveis...
Em pinos com peso do medo e da servidão...
Quem diria, tão grande, por que não?!
Correntes tão finas...
Mas há peso no coração!

É na alma do elefante que habitam as correntes...
Os pesos inabaláveis...
As crenças insondáveis...
A incapacidade impingida sem dó...

O elefante é infante em sua alma...
É gigante, mas pequeno e incapaz...
Aqui jaz, um elefante enfurecido...
Lá, morreu, a liberdade e o ser capaz...
Aqui, a diversão insandecida...
De humanos... outros animais.


_________
Aproveito este pequeno espaço para dizer que sou totalmente contra circos e/ou estabelecimentos que se utilizam de animais para divertir o público pagão, pagante, como queiram...

domingo, fevereiro 14, 2010

Para uma Princesa, um Príncipe!


Eu já limpei minha alma...
Em sal grosso conservei...
A carne estraçalhada...
Já descobri o osso de mim...
O coração está vivo...
Agora mais...
Bate por um amor...
Lavei a alma...
Límpida...
Deixei a chuva me molhar...
A água escorrer...
A lágrima correr...
Escondera-me por muito tempo...
O tempo...
O tempo deslizara, enfim...
Hoje, deslizo-o por mim...
Tomo-o como a um deus dominado...
O tempo...
O rei e o mestre sábio...
Mergulhei minha alma sangrando nas águas...
Águas tempestivas do tempo...
Mergulho infindo...
Tão profundas, estas águas...
Mas logo descobri!
A profundeza é medo de entrar nas águas...
É raso, na verdade, o profundo...
Estava aí, o tempo todo, com a voz do tempo...
Estava gritando desesperada...
A minha alma insandecida...
Foi um breve mergulhar...
Um fio de sensatez obter...
Um rio de amor jorrar...
Foi um breve conhecer de uma leve princesa...
Para um reino descobrir...
Para um príncipe me tornar...
E Ela, toda simples e humilde, aprisionou meu coração...
Mas é tratado como um rei...
Em cuidado, em carinho, em atenção...
Hoje sei que sem Ela, amor eu não teria...
Sem Ela, para quem me doaria?
Ninguém, antes Dela, conseguiu me aprisionar
Na leveza do voar...
Nas asas das nuvens, nas carícias do ar...
É Ela o complemento necessário...
O despir de minha alma...
O sentir necessário...
A existência que me impele a me curvar...
Mas em vôo, em asas, em ares, em mares, em sóis...

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À minha "bonequinha de pano"...

sexta-feira, fevereiro 05, 2010

In Números



Um coração.
Um cérebro.
Dois braços.
Duas pernas.

Um coração.
Um cérebro.
Dois braços.
Duas pernas.

Um cérebro.
Um coração.
Uma vida.
Uma servidão.

Um cérebro.
Sem razão.
Um coração.
Sem sensatez.

Uma razão.
Uma ração.
Um estômago.
Um vazio.

Um coração.
Um ôco.
Um servil.
Um ser vil.

Um cérebro.
Um ôco.
Um vazio.
Uma crença.

Uma cresça.
Duas pernas.
Dois braços.
Mas duas mãos.

Uma reza.
Dois joelhos.
Dois olhos fechados.
Um coração.

Um vazio.
Uma crença.
Uma criança.
Um infantil.

Um doce.
Um chiclete.
Uma palavra.
Um engodo.

Duas pernas.
Uma igreja.
Um sacerdote.
Uma mala de dinheiro.

Dois olhos.
Um tapa-olhos.
Um cego.
Umas moedas.

Duas pernas.
Uma porta.
Uma chave.
Uma cama.

Um copo d'água.
Um dormir.
Um pesadelo.
Um sonho.

Dois olhos.
Uma reza.
Umas palavras.
Um vazio.

Um cérebro.
Um pão amassado.
Um café mal passado.
Um vazio.

Um coração.
Uma enxada empunhada.
Umas gotas de suor.
Um vazio.

Duas pernas.
Uma porta.
Uma chave.
Um vazio.

Então, uma igreja.
Um sacerdote.
Uma riqueza.
Um embuste.

Um vida.
Um pão amassado.
Dois braços.
Duas pernas.

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Que Será?


Tinham asas?
Não sei.
Só sei que voavam...
Eram xícaras...
Eram copos...
Eram pratos...
Eram gritos roucos...

E do outro lado?
Tinha a parede...
Tinha a janela...
Tinha o armário...
Tinha a cabeça dele...

E de onde vi?
Vi de fora...
Vi da janela...
Vi que alguém iria embora...
Vi que certamente não era ela...

E o que ocorreu?
Vai saber...
Só vi correr...
O vi partir...
Sem sequer parar, sair...
Fugir...

Se ri?
É cômico...
É irônico...
Mas é ridículo...
É insano...
Insalubre...

E o que resta?
Restam copos...
Xícaras...
Pratos...
E choros.

sexta-feira, janeiro 29, 2010

Daqui até a Eternidade


Fiquei absorto...
Olhei para mim...
Que há de novo?
Algo que eu nunca vivi...
Perplexo fiquei...
Nunca, antes, amei...
Dá medo da inconstância..
Insegurança do não controlável...
O amor, aprendi, é soltura...
Descontrole premeditado...
É deixar-se cair...
Voar fundo no abismo colossal...
E quando perto do chão chegar,
Avoar em amor, tudo dar...
Nada querer em troca...
Ser para Ela, é o que aprendi...
Doação, perda de forças em pura resignação...
Isso mesmo, resignação!
(Nunca me imaginei a escrever esta palavra.)
Que é subter-se a uma força tão doce como o amor?
É sublimidade, divinização do humano corruptível...
Elevação, enfim.
O amor é uma contradição.
Arre, que eu tinha em mente quando achei que era ilusão?!
Agora, quando vou, não quero volta...
Quando sou, sou para Ela, não para mim...
Sou puro doar-se...
Puro comprazer-se em tê-La nos braços...
Em adorá-La sem tempo ou espaço...
Sem medo, medição e compasso...
Sou mais.
Pois sou menos...
Sou menos, pois sou tudo...
O mundo, o todo...
Sou mudo.
Sou voz e força...
Sou mais, amor.
E vale arriscar? - pergunta a voz medrosa e medíocre.
Respondo com outra pergunta:
Que é viver, senão arriscar?
Aposto e arrisco.
Aponto para um porto...
Meu mar, oceano indizível.
Vou tentar.
Não sou bicho arisco.


sexta-feira, janeiro 15, 2010

Dentro


Caminhei através da chuva fraca...
Os sons me vinham aos milhares...
Muralhas incas se ergueram à minha frente...
Melhores falhas seriam aquelas de outrora...
Outrora e lugares, luares e incenso...
Fogo e arranha-céus iluminados...
Respiração fugidia.

Atravessei a rua olhando para o outro lado...
Tropeçar numa pequena pedra é sinal de desatenção...
Trouxe-me até aqui só para te atrapalhar...
Atravancar e roubar...
Rolar sobre o chão sujo...
Enlamear a roupa branca...
Senti saudade.

Eu senti saudade salgada...
Suores e arrepios...
Mudanças e procuras sem razão...
Línguas e olhares...
Desejo de outros lugares...
Anseio e coração...
Passeio pelo corpo.

Caminhei por entre curvas...
Direção já não há...
E ao chão estamos nós...
Você sempre diz que me adora...
Se sente arrepiada só de imaginar...
Quando em teu cangote minha barba arranha...
E teu cabelo em força eu posso puxar.

Adoras as palavras indóceis...
Aquilo que só há no momento eterno da fogueira...
O beijo doce misturado à força agressiva...
E me pedes para falar ainda mais...
E te ordeno que implore...
Se nada há que nos impeça, somos o tudo!

Perdemos tudo na exata hora do ganho supremo...
Para tudo ter, êxtase extremo...
Olhamos, sorrimos, nos tocamos...
Arrepiamo-nos juntos, pois em consonância agimos...
Estamos ao redor...
Como se fôssemos água...
Mas somos fogo!

Adentro à tua sala de estar...
Mergulho em ti...
Aceitas e me abraças...
És como queres, ser minha...
E diz-me: "vem, entra, a casa é tua..."
E sorrio, qual criança encantada...

A chuva passou...
Agora são suores misturados...
São carinhos despidos...
É nudez, pois não te deixo respirar...
Pego-te de jeito e você adora...
Anseia só de pensar...
E de imaginar, molha-se no próprio néctar...

Deslizo, escorregando até ao fundo...
Tua respiração parou por um instante...
Um fio de voz mostra-me quão intenso sou para ti...
Qual aparição sensual te mostras...
Tua voz sussurra um silêncio retórico...
Uma força escondida...
Uma forma de vida calada...
Mas é o instante anterior...
És bravia, agora...
És só unha sobre minhas costas...
Somos um.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

Nas Palavras



E eu é que sei o quanto tua voz é importante para mim...

O quanto tuas lágrimas me ferem...

O quanto de amor existe, enfim...


Eu é que sei o valor de tuas palavras...

De teu empenho e carinho extremos...

De teu amor expresso no olhar...

Sou eu, quem sente a inspiração crescente...

O calor mesmo à distância...

O desejo de te ver, ter e ser com você...

É de mim que tiro a força que nasce todos os dias...

É para ti que direciono minha energia...

Sou adepto do agora e o que sinto me guia.


Saibas que se estou aqui a escrever

É por que sinto que estou com você...

Sinto que ainda há muito a dizer...

Muito a viver...

Muito a tocar, olhar, desejar e ser...

Se na imagem e no reflexo te encontras,

É nas palavras que estou...

Entende?


Na imagem e sombras das letras

Escondi-me durante muito tempo...

Faço esforço e luta, intensos...

Só para a ti me expressar...

Para em ti me encontrar...

Não é nada tão difícil...

Estou seguro em três palavras...

E você as conhece.

Dizemos todos os dias...

Em meio a reveses, anseios e melodias..