Todo trabalho tem sua dose de escravidão.
Todo dizer tem sua dose de narcisismo.
Todo responder tem sua dose de auto-comiseração.
Todo olhar tem sua dose de prazer.
Toda revolta tem sua dose de insânia.
Toda amizade tem sua dose de si-mesmo.
Todo chorar tem sua dose de desespero.
Todo desesperar-se tem sua dose de vazio.
Todo sorrir tem sua dose de verdade própria.
Toda criatividade tem sua dose de fuga.
Toda poesia tem sua dose de nada.
E todo nada é refúgio e esconderijo do tudo.
Todo poemizar tem sua dose de fingimento.
("O poeta é um fingidor"...)
Toda filantropia tem sua dose de egoísmo.
Toda bondade tem sua dose de enganação.
Toda verdade tem sua dose de mentira.
Toda utilidade tem sua dose do que é vão.
Todo novo tem sua dose do velho.
Toda dor tem sua dose de auto tapeação.
Todo sentimento, enfim, tem sua dose de um oposto.
...
Mas o que é o oposto?
...