sexta-feira, abril 24, 2009

P'ra Você...


Insisto em escrever...
Por que sou teimoso...
Por ter leitores como você...

Poetizo a minha alma...
Corro o risco sempre insano
De sair da calma...
De marcar a cara...
De ser grosso sem sentido...
De deixar a vida falar o caos feito lavra...

Sinto a força que há em mim
Da força que vem de você...
Que lê, que comenta, que só vê...
Que faz deste espaço um lastro dialogal...
Mesmo que venha de um...
Louco ou normal...

Dedico este poema a você...
Caríssimo e caríssima...
Que vem, prestigia e motiva...
Que compartilha o que sinto...
No próprio coração e cativa...

Abre a alma...
O tesouro escondido...
O pote ao fim do arco-íris...
O dourado reluzente...
O ouro perdido de si...

Dou-te, agora, a palavra...
Que pulsa em meu peito...
E dispara contra o teu...
Liberta e dá asas...

Voa, ó caríssima... voe, caríssimo...
Apreenda o mundo com a alma...
Compreenda a vida com entusiasmo...
Enxergue os instrumentos que a Natureza te dá...
Crie as asas da liberdade...
Fora do recanto da ilusão...
Desligue a tv numa tarde...
Numa manhã...
Num verão.

Faça de si a força do mundo...
Pois de ti emana a força de um coração...
Arranca do peito a mágoa...
Perdoa quando necessário for...
Mas não fique à toa...
Pois a vida tem inimigos...
Aprende a aprender com eles...

É você que aqui vem, que me ensina...
Que me mostra o caminho...
Que me transforma num espelho...
Para enxergar dentro de si...
A força, a energia, o conselho...
Fico grato...
É fato, continuo...
Mas reconheço a paz que emana de mim...
Pois é em ti que me inspiro,
É em mim que desatino.

segunda-feira, abril 20, 2009

Oração à Deusa Gaia


Friozinho que chega...
Chão frio...
Pés no chão...
Sinto a força que emana da terra...
E da Terra...
A serra que mostra o pulsar de um coração.

Folhas ressequidas...
Se espalham por sobre a terra,
O solo que aceita...
É só do que deleita e erra...
Como louco desvairado...
Corre desesperado...
Para acolher toda folha que cai por sobre o chão.

É a Natureza e sua porta...
Que se abre, ensina sem razão...
Aos pequenos pontos que a compõe,
Que tecem esse coração...
Coração de terra...
Amor sem fim...
Solo e solidão.

Falo de solidão, pois o solo é poeta...
Encarna, grita, mata e maltrata.
Encena uma dor, finge que gosta e ama...
Mas abraça com a certeza de um amor.
Abraça, pois acolhe e retrata...
Mostra, como o poeta, a falha amarga
De se pensar ser mais do que mata,
Mais do que árvore que dança à luz do luar.

Floresta infinda desse oceano verde,
Mostra a força, mostra a dança...
Inclina-te à Lua, ao Sol, à agua...
Dança e nos mostra o passo ritmado...
O dançar forte, pois o nosso é descompassado...
Mostra, dai um presente,
Ensina-nos com o passado.
Para que o amanhã retorne a ser
O verde-louro aveludado.

Ó, força que emana de Gaia,
Mostrai que em nós, filhos insanos,
A paz nunca falha.
Pois viemos de Ti,
A Ti voltaremos,
E em Ti somos mais.
É minha oração,
Ó deusa belíssima,
abençoa e ensina que mais nós podemos
E que "mas" já não cabe,
Pois sentimos as lágrimas que molham sua face,
E que soçobram nossas bases mais fortes.

Ensinai, a este pequeno,
Como se caminha de olhos fechados...
Pois se deve enxergar com o coração.
Ensinai a todos pequenos
Que junto somos grandes,
Que, de fato, tua luz é uma escuridão.
Pois é na morte que sustentas a vida.
Mas morte que acompanha a paz,
A serenidade, a doce sensação...
De seguir em frente,
Fazendo parte do mato,
Do bicho, da flor, da raíz... é solidão.
É solo...
É coração.

A Grande Guerra Interna...

Neste blog, palavras como as que virão aqui já foram ditas, mas nunca é muito repetir coisas do tipo que se segue... Estava eu a conversar com uma amiga de infância (considero irmã de tanto afeto que tenho por ela), a Tatiana, e ela conseguiu me inspirar, com algo dito, para a seguinte reflexão: Vivemos num mundo de correria, de busca constante e competição. Acho que ninguém discorda disto facilmente. Bem, acredito que o fio que une esses comportamentos seja uma característica humana que filósofos já chamaram de "instinto de poder". Isso significa que corremos motivados por nossa necessidade de dominar, exercer poder sobre o outro e sobre a realidade, de forma geral. Tudo bem, até concordo que há uma certa necessidade desde tipo de comportamento, porém não posso concordar que necessitamos permancer em algo que tem nos matado. Como? Essa competição e necessidade de domínio tem acarretado doenças de nível profundo em nosso corpo, tais como cardiopatias, doenças gástricas, desquilíbrios hormonais, câncer, doenças do sistema respiratório, doenças sociais como a inércia coletiva, etc. Tudo isto poderia ser evitado com uma atitude muito mais desafiadora do que superar um outro: superar a si mesmo. A auto-superação é das tarefas mais difíceis que conheço, pois exige que olhemos nos olhos de nossos maiores medos, exige que encaremos nossa fragilidade existencial, exige que caiamos na dura realidade de que nossa vida logo se findará. E é exatamente o caminho oposto do que a sociedade tem ensinado. Ela diz: jogue a responsabilidade para o outro, pois assim é mais fácil lidar com as próprias fraquezas; não admita tua parcela de culpa, pois isso dói muito; vire o rosto para evitar ver humanos dormindo debaixo de marquises, pois pode se lembrar que ali podia ser você; vá para a agressão a outros humanos e/ou animais, pois assim é mais cômodo e ajuda a esquecer que tua fraqueza é tão grande que precisas esquecê-las.

É isso...


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Pintura de Oswaldo Guayasamin, "A Idade da Grande Ira"

domingo, abril 19, 2009

Devoradores...


Que diabos eles querem?
Que tratado que defendem?
As migalhas que no chão se espalham...
Viram fardos que atrapalham...

O pão amassado pelo Diabo...
A insânia que toma conta, dá recado...
Fixa a mente fixamente...
Arranca as entranhas e espalha ao asfalto quente de verão...

As palavras me surgem agora...
De frente à tela da informação...
Que merda de informação é essa,
Que mata, que emburrece o coração?

Letras e palavras...
Frases incompletas...
Chuva que não pára...
Xingamentos discretos...

Causam avaria à mente...
Danificam, os devoradores de cérebro...
Carnificina em dia de luar...
Céu aberto e escuridão...
Luz e pé no chão...
Olhos vermelhos...

Os carros passam pela estrada...
Não vêem o que ocorre em mata fechada...
Somente a lua ilumina o caminho...
As farpas, as cartas que nunca existiram...

O amor nunca dado...
A mãe que lá esteve e que nunca foi...
A dor nunca sarada...
O grito ao asfalto iluminado...

Ninguém sabe o que é a lágrima do palhaço...
Não entendem o que é a dor...
O sofrimento do pé descalço...
O agredir para ser visto e ouvido...
Para ter poder...

A luta é essa...
As gravatas que desfilam...
A favela que alucina...
"Mata o porco desgraçado!"
Quem disse isto? - Pergunto, desarmado...

Os loucos que traficam?
As gravatas psicopatas, apresentáveis e bonitas?
Não.
Os da favela se matam para garantir o lucro daqueles da gravata...

Mais um corpo estendido no chão...
O copo está cheio...
Confusão...
O cara folga a gravata vendo a reportagem na televisão...

Aliviado, toma um vinho escocês...
Ao copo, em letras de ouro, seu nome talhado...
Assenta-se em sofá de couro importado...
Estica-se e dorme, amanhã estará no Senado.