sexta-feira, setembro 03, 2010

O Retorno




Ele caminhava cabisbaixo...
Pensamentos ecoavam em sua mente...
Um beco escuro...
Silêncio, quebrado apenas pelo vento...
Que trazia de longe um jazz...
Naipes de sopro e um piano desafinado...
Estava perdido num deserto de concreto...
Imerso na noite de estrelas como teto...
Caminhava enquanto nuvens caíam aos montes...
Esbarradas num céu semicerrado...
E um chão de concreto...
A voz em sua cabeça ressoava dissonâncias...
Sua pele escorregadia, de suor e bonança...
A cachaça, pinga do bar do beco...
As risadas solitárias de bebuns enclausurados...
Os quase-nada que nadavam em si e só...
Agora, uma rala chuva o tocava...
Um ventinho soprava embora aquele calor...
Viu, ao longe, um cachorro se abrigando da chuva...
Mosquitos em volta da lâmpada indo-se...
Um taxi branco passando lentamente...
Estendeu a mão...
Foi-se, então, embora.

quinta-feira, setembro 02, 2010

Em Sangue


O inferno de cada dia...
O fogo ardente de dentes a ranger...
A fúria insana que nos toma...
A foice sagrada da maldição.

Seguiu em viagem a caminhar...
Caminhos ocos experimentou...
De vida vazia e vasos sem terra a plantar...
Seguiu em viagem a marejar...

O inverno de cada noite...
Sem cobertor para acariciar...
 Os lábios malditos quisera beijar...
De mordidas sem fim, de sangue a sugar...

São insanos estes desejos vampirescos...
São o som de sonos e meros lampejos...
Da alma que acalma a cama e o carma...
Os dentes afiados a mordiscar...

Este é o passeio inodoro...
Os passos mergulhados nas travessias oceânicas...
Desse infindo mar de nadas...
E águas saguinolentas...

A foice e o destino...
A morte e o desatino...
Sarou-se em saúde mais humana...
Ao descobrir-se e banhar-se num mar de lama...

Sarou-se em si...
Descobriu-se perverso...
Um sociopata!
Aquele que está aí, aqui e acolá...
Viveu em luz, as sombras malditas...

Atravessou o céu...
Mergulhou em mar de sangue...
Banhou-se em si...
E ao inferno voltou.