A respiração é ofegante. Os olhos estão avermelhados. Gotículas de suor se amontoam sobre sua testa. Outras, escorrem e se encaminham por sobre o seu nariz, despencando e caindo ao chão logo em seguida. O peito se expande e comprime num ritmo acelerado, a respiração é ofegante. Cada palavra do oponente se choca contra uma barreira invisível... a audição somente escuta o que vem de dentro. Os olhos captam uma gesticulação vociferante do outro. Cada abrir de boca é apenas uma imagem... mais uma, somente. Os seus músculos contraem-se, veias aparecem estufando-se, o tronco encurvado e as artérias que sobressaem no pescoço dão seu ar da graça. O vento parou. Nada mais existe, a não ser ele e seu oponente. As narinas expandidas permitem uma maior oxigenação cardiovascular, o que permite a maior concentração de energia que será utilizada a qualquer momento. Ele fixa seu alvo. É grande seu oponente... A respiração fica cada vez mais ofegante... Os pés se direcionam e começam por levantar o calcanhar, centímetro por centímetro os pés caminham... Os músculos das coxas se contraem, a respiração é intermitente... Nas mãos... garrafas... de polietileno... garrafas pet cheias de um líquido avermelhado... Ele caminha e adentra no veículo, um ônibus comercial. Em sua mente, as imagens que lhe vêem são de seus filhos chorando de fome... Sem perceber, o assoalho do ônibus já está ensopando da gasolina que cai de duas garrafas de 2L... A multidão ao redor do ônibus grita, com paus e pedras nas mãos, "Vai, Zé! Rápido!!!" Ele olha para fora por entre as janelas de vidro, olha para o assoalho ensopado e sai correndo, saindo do ônibus... Retira, cuidadosamente um esqueiro vermelho, acende-o e joga para dentro do veículo... O fogo de alastra sinfonicamente, gradativamente e toma conta de todo o interior o veículo. A multidão se afasta correndo e ele permanece parado, contemplando a arte acontecendo naquele instante... Agora, o fogo se alastra por sobre a lataria do ônibus. Ele se afasta sem dar as costas à obra, se afasta com um sorriso no canto da boca, o sorriso de quem vence a batalha... De súbito, o veículo explode causando um imenso barulho e subindo alguns metros do chão. A multidão explode também, mas gritando, com euforia uma infinitude de sons. A turba está satisfeita.
Ato: o ver.
Há 11 anos
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