E quando o sol sair vou ver o mar...
Lembrar do que não vi, amar...
Saber de tudo em si...
Girar com os olhos fechados...
Cair...
Mergulhar em fontes e vidas...
Sair sem saber para onde ir...
Perdido hei de ficar...
Sedento de sangue vou ser...
Abrigo caiado de belo prazer...
Com doses pequenas de quente amanhecer...
De largos passos e pegadas na areia...
De pores e nasceres...
De sóis, de vinhos e de iras...
Salvo, enfim, eu vou ficar...
Correr solto por aí...
Desafinar...
Expandir as concepções e mentalidades...
Derramar o óleo cru da maldade...
Encharcar o pano seco da leveza...
E como criança hei de encarar a velha e inodora barca...
Navegar o infindo mar...
Chover como gotas e espalhar...
Essa sorte que me veio alcançar...
De ter um sol, uma luz, um caminho, enfim...
Saber-se só e em si se encontrar...
Fazer-se nó e a solidão questionar...
Aceitar que estando só, não há solidão que resista...
Pois a vida são gotículas que caem...
Derramam-se e graciosamente encaram nos olhos...
E dizem assim:
"Em só e em nó transformas a ti...
Sem expressão não há forma definida...
Flexibilizas a ti...
E nada pode ser, pois ser tudo é não ser um...
E ser um é ser indivisível...
Mas a sorte a ti chegou!
Arranjastes um outro ser...
E tivestes que te ajuntar...
Dos pedaços, do pó...
Alargastes o sentido da vida...
Desfizestes o nó...
Pois a poesia das palavras de outrora...
Em teu peito arde que dá dó...
Mas é bom que assim sejas...
Aprendendo a amar, serás um...
E outro ao mesmo tempo...
Serás mais...
Hoje, estás mais do que ontem...
Deixa chover por dentro...
Nós, em teu corpo vibramos...
Aquecemos, instilamos uma semente...
Regamos todos os dias...
O vinho branco da sabedoria...
Pois achastes o caminho...
Carregas o peso neste ensejo...
Serás, daqui para a frente, o fiel cumpridor de teu desejo..."
E ouvindo isto me calei...
A voz da vida é a chuva mais querida...
O som mais doce de suavidade inaudita...
Calei-me.
Ouvi.
E em sono adentrei.